Viajar sozinha ainda é um desejo repentino, unido à vontade de largar tudo e sair para conhecer o mundo? Quem nunca, não é mesmo?
Mas, é só lembrar do trabalho, faculdade, família, contas a pagar, entre outras coisas da “realidade” que nós deixamos de lado nossos sonhos.
Livia Cotting, Iguatuense, Fisioterapeuta sem experiência, profissional capacitada e atuante na área de se perder para se encontrar na vida, resolveu não deixar esse desejo morrer e, ao terminar a faculdade, saiu – sozinha – em busca de aventuras.
Conhecida pelos amigos por (Bo)Lívia, foi, ironicamente, por terras bolivianas que ela decidiu começar a sua viagem, seguida de outros destinos em uma viagem pela América do Sul.
Apaixonada também por literatura e a arte de escrever (ela escreve lindas poesias, diga-se de passagem!), compartilhou com o Local Planet um pouco da aventura solo – onde ela viajou até de carona.
Então, acompanhe esse relato incrível para saber um pouco mais sobre a viagem sozinha de Lívia Cotting pela América do Sul.
Vamos lá?
Relato de Lívia Cotting em sua Viagem Sozinha pela América do Sul
Depois de um dia normal de trabalho, sentei na frente do computador mais uma vez a fim de terminar meu último trabalho acadêmico, faltavam somente alguns ajustes e a conclusão, mas de alguma forma essa parte parecia se postergar eternamente.
Porém, desta vez, estava determinada a escrever tudo de uma só vez!
Uma hora depois, cá estava eu num super bate-papo com uma amiga que tinha viajado pela América Latina inteira. E essas foram as minhas primeiras passadas da caminhada que mudou minha vida.
Assim, no dia seguinte à minha conclusão de curso sai coletando o máximo de informações possíveis do meu primeiro destino de viagem (solita), Bolívia.
Então, com 2.000 reais no bolso e um mês de férias, saí sem saber quase nada sobre onde estava indo.
De Foz, tomei vários ônibus atravessando a Argentina até chegar à Bolívia, fiz uma parada rápida em Salta e outra em Jujuy devido às escalas desencontradas dos ônibus. Foram 4 dias sem banho, dormindo nos ônibus e comendo comida de rodoviária. Bloqueada pela minha timidez e medo, permaneci sozinha.
Atravessei a fronteira por La Quiaca e já na Bolívia minha primeira medida foi trocar dinheiro, decidi trocar logo tudo para não ter que fazê-lo novamente, grande erro!
Se eu já estava assustada, com esse bolo de dinheiro no bolso me senti como um ratinho no meio de gatos selvagens.
Sai colocando um pouco de dinheiro em cada meia, no sutiã, na pochete e me fechei ainda mais para qualquer possibilidade de contato humano.
Porém, na última rodoviária antes do meu primeiro destino boliviano, Potosí, uma alemã que falava um espanhol engraçado sentou do meu lado e me ofereceu água, conversamos. Ela estava há um ano morando entre Bolívia e Chile, estudando espanhol e fazendo trabalho social voluntário.
Então, perguntei como ela se sentia sendo mulher estrangeira nessa terra tão distante, e ela disse: ‘me sinto viva’. Eu não precisei perguntar mais nada.
Saímos dali para uma feirinha de rua a fim de comer alguma coisa e cada uma seguiu seu caminho logo depois.
Potosí, Uyuni, La Paz, Copacabana, Isla del Sol.
Até esse ponto minha viagem estava como a de qualquer outro mochileiro desavisado, indo de hostel em hostel, pesquisando no TripAdvisor sobre o que fazer de graça e coletando dicas de recepcionistas e hóspedes legais disponíveis (entre eles cruzei com o Júlio, um francês de 19 aninhos que teve a ponta do dedo indicador comido por um macaco enquanto voluntariava num zoológico em Santa Cruz. Com ele, fiz minha primeira grande trilha da vida, 4 horas subindo e descendo o morro da Isla del Sol para a Isla de la Luna – quase morri!).
Até encontrar a Irene no Lago Titicaca, uma Suíça sincera e inteligente que conheci no hostel em que eu trabalhava e que mantivera contato via redes sociais.
Irene veio com o kit completo: desapego, força, coragem e espírito aventureiro. Eu grudei nela e nunca mais soltei!
Acampamos em Copacabana por mais 5 dias e fomos a La Paz já tomando o caminho de volta ao Brasil. Lá caímos no golpe do ‘taxista e o policial’, mais que conhecido. Levaram todo o restante do meu dinheiro, câmera fotográfica da Irene, nossas frutas secas e nozes tão gostosinhas.
Então, devido a esse acontecido tive que pegar dinheiro emprestado dela até a Argentina e, de lá, começamos nossa jornada de caroneiras peregrinas.
Atravessamos a fronteira Bolívia-Argentina por Yacuiba e caminhamos até o posto policial a fim de pedir carona. Aqui conhecemos o Marcelo, um caminhoneiro argentino que faz o melhor mate que eu já tomei na vida, e é pai de duas meninas que adoram pescar.
Assim, Marcelo nos acompanhou por todo o trajeto de 4 dias pela Ruta 81 de Tartagal até Formosa, onde nos despedimos num churrasco ao melhor estilo argentino de ser, que incrível!
Com ele, conhecemos os postos de caminhoneiro onde há chuveiros gratuitos e segurança 24h, informação muito útil para a carreira de caroneiras na América Latina.
Depois de nos despedirmos do Marcelo pelo menos 3 vezes, seguimos nosso caminho, destino à Assunção no Paraguai de onde tomamos um ônibus até Foz do Iguaçu.
Até aí o plano era a Irene ficar em Foz uns dias, eu voltaria a trabalhar e ela seguiria viagem sei lá pra onde, assim findaria nossa aventura.
Mas, o que não sabíamos é que ela estava apenas começando.
Em duas semanas, pedi demissão, peguei mochila, saco de dormir e um colchonete emprestado. Partimos pelo Brasil acima numa rota que beiraria toda a costa até o meu Ceará, de carona!
O itinerário foi:
- Foz do Iguaçu
- Maringá
- Londrina
- Campinas
- São Paulo
- São José dos Campos
- Paraty
- Angra dos Reis
Rio de Janeiro – pegamos um avião para:
- Recife
- Jaboatão dos Guararapes
- Olinda
- João Pessoa (tambaba)
- Campina Grande
- Pipa
- São Miguel do Gostoso
- Canoa Quebrada
- Fortaleza
- Jericoacoara
- Iguatu
- Feira de Santana
- Chapada Diamantina
- Salvador
Praia dos Fortes – pegamos um avião para:
- Foz do Iguaçu
A história da viagem pelo Brasil ficará para uma outra oportunidade! 🙂
Sobre a Lívia Cotting por ela mesma:
Lembro que aos 17 anos e com amigos num bairrinho super badalado, conheci o Renato, o caçula de uma das famílias mais ricas da cidade (Iguatu, no interior do Ceará).
Nessa noite, ele me falou de suas viagens pelo mundo, falou do Egito, dos Estados Unidos, de Londres e Dubai. Claro que essa era uma realidade longe da minha, continua sendo, mas o que mais lembro é que ele não se encaixava muito bem nos ‘grupinhos’ de amigos que por ali rondavam.
Lembro que ele era pra todo mundo ‘meio esquisitão’. Hoje, mais de dez anos depois, entendo perfeitamente aquela situação de desencaixe.
E aí, quer compartilhar a sua história e dicas de viagem (seja por outros destinos ou sua própria cidade) também? Deixe o seu comentário sobre este post abaixo!