Ser nômade digital hoje é uma realidade mais próxima de muitas pessoas ao redor do mundo.

Elas se conectam, trabalham, se relacionam, fecham negócios online e, ao mesmo tempo, têm a possibilidade de conhecer muitos lugares, culturas e pessoas. 

Inclusive, essa possibilidade aumentou há pouco tempo devido ao contexto da pandemia, em que as relações sociais e profissionais se alteraram drasticamente.

No entanto, ainda é difícil se organizar para empreender e viajar. Afinal, quando falamos de empreendimento estamos envolvendo uma série de questões, como controle e comunicação organizacional, e gestão de equipe, por exemplo.

Por isso, trouxemos aqui o relato da Manu, empreendedora independente, fundadora da Enlink – agência de marketing digital -, e do Local Planet.

Manu Sanches conta que é possível viver uma vida cheia de significado, realizando sonhos e, ao mesmo tempo, crescendo profissionalmente e desenvolvendo também outros profissionais nessa trajetória.

Confira!

O que Faz um Nômade Digital?

Como você viu anteriormente, o nômade digital faz o seu trabalho de maneira remota enquanto viaja e explora destinos ao redor do mundo.

Assim, no sentido profissional, é possível trabalhar em qualquer coisa que permita uma atuação remota.

Algumas das ocupações em que esse formato funciona super bem são:

  • Freelancer
  • Fotógrafo
  • Designer
  • Redator
  • Psicólogo
  • Produtor de conteúdo
  • Editor de vídeos
  • Gestor de tráfego
  • Tradutor
  • Investidor

Além disso, o nômade digital pode aproveitar o seu tempo para conhecer a cidade onde está alocado e os arredores e, ainda, se profissionalizar, estudar, aprender novos idiomas e hobbies. 

O Que É Preciso para ser um Nômade Digital?

Ser nômade digital requer a capacidade de trabalhar remotamente enquanto viaja ou estabelece residência temporária em diferentes lugares do mundo.

Sendo assim, você vai precisar abrir ou trabalhar para uma empresa em que a atuação à distância seja possível. 

Ou seja, sua carreira não poderá depender da sua presença física em uma loja, comércio ou escritório.

Além disso, é fundamental uma boa conexão com a Internet. Afinal, ela será um dos seus principais instrumentos de trabalho.

Em geral, nômades digitais precisam de computador, câmera fotográfica, celular, fones de ouvido e microfone, por exemplo.

Por último – e não menos importante -, é preciso reforçar que esse lifestyle é muito mais imprevisível do que o de alguém que vive fixo em um único lugar.

Sendo assim, é preciso planejamento e organização para garantir o sucesso da sua jornada de trabalho.

A seguir, você vai entender o que foi preciso para que a Manu se tornasse uma nômade digital e empreendedora independente. 

Empreendedorismo Independente: Como Virei Empreendedora Nômade

Nem sempre é glamouroso trabalhar como nômade…mas é sempre uma aventura! Da série #escritoriodehoje na oficina mecânica em Salta – Argentina 😅😅

Em 2009, recém formada e com 23 anos, fundei a agência de marketing Enlink.

Desde o primeiro dia eu já me preocupava com tudo funcionar à distância. O plano era eu e duas estagiárias trabalharmos remotamente, já que não tínhamos escritório e eu tinha uma grande viagem marcada para dali a um mês.

Então, finalizado o treinamento delas, parti sozinha para um mochilão pela Europa. 

Na época eu ainda não tinha ouvido falar do termo “nômade digital”, mas mesmo sem saber, eu me tornei uma.

Assim, foram dois meses e meio rodando por 11 países, enquanto gerenciava a equipe e me comunicava com os clientes via email e Skype nos hostels. 

Ainda durante o mochilão, a demanda de trabalho aumentou, então contratei e dei parte do treinamento para uma nova integrante – tudo enquanto eu explorava Roma, na Itália. 

Enfim, depois de anos de Enlink muita coisa mudou: tivemos um escritório em Foz do Iguaçu, mais de 100 clientes por todo Brasil e até de outros países, e cinco pessoas na equipe (mas já chegamos a ter 30!).

Com isso, junto com o desenvolvimento da empresa, cresceram também os sonhos. Assim, em 2016, embarquei com meu marido em uma jornada de carro/casa. 

Foram 6 meses rodando pela América do Sul e mais uma vez trabalhando à distância. Dessa vez tanto para a Enlink, quanto para o projeto Local Planet.

Foi divertido. Foi desafiador. Mais importante de tudo: deu certo! 

Veja então como eu me organizei pra fazer tudo isso!

Como me Organizei para ser Nômade Digital e Trabalhar do Local dos Meus Sonhos

Definir Metas

Meus objetivos de vida, sejam eles viajar, ficar com a minha família ou estudar, poder trabalhar em qualquer local com Internet, foi a meta que norteou minhas decisões desde o início.

Em uma época, conquistamos muitos novos clientes ao mesmo tempo e chegamos a ter 30 pessoas na equipe. 

Assim, como o crescimento foi rápido, foi também sem muito planejamento e quase fiquei louca, sem tempo para fazer as coisas que eu gostava e acompanhar bem a equipe.

Foram tempos desafiadores e também de muito aprendizado, principalmente sobre o que eu não queria para minha vida.

Portanto, ficou claro para mim que não adiantava ter mobilidade e acabar sendo uma workaholic em alguma outra cidade do mundo. 

Daí vem a segunda meta: ter tempo livre!

Essas metas sempre me guiaram nos momentos de decisões e também para organizar a forma de interação entre a empresa, equipe e clientes.

2. Escolhi as pessoas certas e as preparei

Claro que para tornar a empresa e equipe mais independentes, é necessário focar em procedimentos e capacitações. E, para áreas relativamente novas, como Marketing Digital, a curva de aprendizado da equipe pode ser lenta.

Inclusive, é comum contratar alguém com pouca ou nenhuma experiência, então é preciso ensinar tudinho, desde o básico. Por isso, pensei então em facilitar esse processo ao máximo.

Assim, criei uma metodologia de trabalho com passo a passo para cada cargo e atividades importantes.

Documentei esses passo a passo em guias, que usamos nas capacitações e armazenamos no Google Drive para que a equipe pudesse consultar (fiz isso para coisas como transações feitas pelo financeiro e processos de RH)

Além disso, fizemos um cronograma de treinamentos para novos integrantes, que envolvem as mais diversas áreas da empresa (o treinamento de um redator, por exemplo, leva uma semana e conta com partes apresentadas por mim, que sou a Diretora, Coordenadora e Analista de Redação).  

Pode dar bastante trabalho começar a organizar uma estrutura assim, mas compensa muito! 

Pois, hoje, mesmo me envolvendo pouco nos treinamentos, vejo que a metodologia de trabalho é mantida. Passei a tentar não dar mais a resposta pronta e sim desafiá-los a chegarem a soluções junto comigo. 

E depois: identifiquem o problema, pensem em possíveis soluções e então me chamem para conversar. 

Assim, criamos um ambiente seguro para cometer erros.

“Dê oportunidades para as pessoas brilharem e você vai se surpreender!”

Desenvolva seu time para a tomada de decisões e não os fique criticando. Se você realizou um bom trabalho de treinamento para que as pessoas sejam seus executivos, é importante que você acredite que eles estão dando o melhor para realizar o melhor para o seu interesse (e para a empresa). 

Por isso, mesmo que tomem uma decisão equivocada ou resolvam um problema de um modo que você não faria, não critique e nem os desvalorize. 

Pelo contrário, use esses momentos como oportunidades de melhoria, ouça as razões para a ação tomada – na maioria das vezes, dentro do contexto, há uma lógica para o que foi feito.

3. Deleguei (distribuí) as minhas funções

Eu olho e vejo semelhanças no processo de administrar minha empresa com o de criar um filho.

No começo ela ainda era uma plantinha frágil, que precisava de muito cuidado e atenção. Não só frágil, mas também sem grana. 

Então, eu fazia de tudo um pouco: parte operacional dos projetos, gestão da equipe, atendimento a clientes, propostas, RH, financeiro, faxina e o que mais fosse necessário!

Assim, à medida que eu e a Enlink fomos crescendo e amadurecendo juntas, me esforcei para que ela fosse aos poucos se tornando uma “criança” mais independente. Passando o desenvolvimento dos serviços para minha equipe e eu ficando com o acompanhamento do trabalho delas e gestão da empresa.

Com isso, na “adolescência” ela começou a caminhar com mais autonomia, quando eu transferi para outras pessoas a responsabilidade de supervisão da equipe e clientes, criação de propostas, gestão financeira e de RH.

Chegamos então à fase “adulta”, para a qual todes nós vínhamos nos preparando. Eu parti para a viagem de camper pela América do Sul e, apesar de eu ter trabalhado remotamente durante toda a jornada, a gente já sabia que seriam inúmeras ocasiões que eu não teria conexão com Internet. 

Portanto, chegava a fase da equipe tomar decisões por conta própria.

Todas as etapas envolveram confiar muito nas pessoas que estavam ao meu lado, de que eram certas para a missão e que estavam preparadas e comprometidas a enfrentar os desafios – que com certeza viriam!

E olha, mereceram toda confiança depositada. Eu sempre digo e repito: equipe, vocês são demais! Eu e a Enlink não somos nada sem vocês!

“Pode parecer loucura um chefe de empresa sair viver suas aventuras e deixar sua empresa na mão de funcionários, mas por algum motivo, foi exatamente isso que me transformou e me fez enxergar a Enlink como minha também! E assim foram meus quase cinco anos de agência: sempre vendo a Enlink como minha e abraçando nela tudo que me cabia.”

Carol Ramalho, ex Coordenadora da Enlink 

A verdadeira delegação de poderes requer metas devidamente determinadas, com diretrizes nítidas e prazos concretos.

4. Criei um ambiente para reter os talentos

Você se empenha em selecionar as pessoas certas, prepará-la por um ou dois anos, até ela atingir uma maturidade profissional legal e aí ela diz: “podemos conversar?”. Seu coração pára por alguns segundos, porque você já sabe qual vai ser a próxima frase. 

Eu diria que ter um produto ou serviço com bom potencial de venda, aliado à qualidade do que você entrega são 50% do sucesso da sua empreitada, e os outros 50% é encontrar as pessoas certas para estarem ao seu lado e prepará-las para a jornada.

Então, quem já empreendeu sabe como esse segundo ponto é desafiador, porque a qualidade do seu produto ou serviço também depende diretamente da sua equipe.

Inclusive, para completar o desafio, a área que a gente atua é conhecida pela volatilidade dos profissionais, que trocam de empresa constantemente, por faltarem profissionais no mercado.

Com isso, nesse ponto eu (felizmente) já tinha as pessoas certas e bem preparadas. Agora, como fazer para que elas quisessem ficar e manterem-se motivadas? 

Para isso, sempre penso no que eu gostaria para mim, minha carreira e meu ambiente de trabalho.

Tarefa é algo que você cumpre em troca de um pagamento, sem procurar outras recompensas. 

A carreira está vinculada a um investimento profissional mais profundo. Você trabalha pelo dinheiro, mas também pela ascensão e reconhecimento profissional.

E a vocação é o compromisso apaixonado pelo trabalho. Quem tem uma vocação vê seu trabalho como uma contribuição para um bem maior, para algo além de si mesmo. O trabalho em si é o fator de realização, ainda que não haja dinheiro ou promoções em jogo.”

http://www.felizcomavida.com/trabalho

Oferecer evolução profissional:

  • Plano de carreira
  • Conversas mensais sobre feedback

Focar em qualidade de vida para todos:

  • Flexibilidade de horários
  • Ter home office
  • Fazer alongamentos
  • Política da porta aberta

5. Tornei as informações acessíveis de qualquer local

Para tornar todas as informações acessíveis, eu uso o Google Drive, mas tem outras opções, como o Dropbox. 

Esses são bancos de dados que você acessa pela Internet, onde se faz upload ou cria documentos do tipo pacote Office (Word, Excel e Power Point), além de fotos, vídeos e o que mais preferir.

Na Enlink, armazenamos muitos documentos dessa forma: de relatórios para clientes a fluxos de gestão da empresa. 

Inclusive, essa solução tem sido extremamente útil quando eu ou outras pessoas da agência viajam, fazem home office ou precisam acessar infos em reuniões fora do escritório. 

O que me ajudou a ter essa visão mais ampla foi o MBA em Gerenciamento de Projetos, em que o que aprendi era muito mais complexo do que eu precisava para gerir pequenos projetos de Marketing Digital.

Afinal, essas formas de gerenciamento são úteis e práticas para saber sobre status dos projetos, distribuir atividades, definir prazos e manter consistência. E, dentre as ferramentas para essa gestão, já usamos Basecamp, Trello e, atualmente, usamos o Monday.

Então, mesmo no meio do Salar de Uyuni na Bolívia (sim, pega sinal 3G lá!), eu sabia no que a equipe estava trabalhando!

6. Dei adeus aos medos (e mitos)

  • Mito 1: “Chefe tem que estar na empresa”

Essa é a principal diferença entre você se posicionar como chefe ao invés de líder. 

  • Mito 2: “Sou a única pessoa capaz de fazer o trabalho bem”

Decidi confiar nas pessoas que escolhi para estarem ao meu lado, até elas me provarem o contrário.

  • Mito 3: “Empresas bem sucedidas trabalham de forma convencional”

Ex de empresas diferentes. Livre-se do apego

Natalie Sisson, fundadora do The Suitcase Entrepreneur, explica: 

“Tem que entender qual é o tipo de empreendedor que se quer tornar. Tem que ter a certeza de que tem o perfil certo para ser um nômade digital. Tem que lhe agradar a ideia de não ter casa fixa, de marcar as suas viagens e organizar toda a sua vida. Prepare-se para eventuais falhas na ligação à Internet, diferentes estilos culinários e instalações desconfortáveis. Ser nômade digital é uma grande aventura, mas às vezes pode ser difícil.”

A verdade é que nem sempre foi fácil, mesmo!

Confesso que em muitos momentos eu me perguntava: “será que estou tomando as decisões certas?”, ainda mais quando as contas apertavam e via empreendedores com perfil parecido com o meu, mais bem sucedidos financeiramente.

No entanto, até agora tenho conseguido contornar os momentos de aperto (e sou extremamente agradecida por isso!) e sigo valorizando a minha maior riqueza: ter tempo!

Dicas Nômade Digital para Empreender e Viajar

Por fim, veja algumas dicas para ser nômade digital, empreendendo e viajando:

  • Escolha uma área de atuação em que seja viável trabalhar remotamente
  • Planeje-se e organize sua realidade para, em um período de tempo determinado por você, colocar seu sonho em prática
  • Valorize e confie nos seus colegas de trabalho, saiba delegar funções quando necessário
  • Invista nos equipamentos necessários para fazer um bom trabalho à distância
  • Confie no seu planejamento e dê adeus aos medos e receios

E aí, gostou de entender um pouco mais sobre o estilo de vida de um nômade digital e ainda ter dicas para empreender e viajar?

Se tiver dúvidas ou outras dicas para enriquecer o conteúdo, deixe aqui nos comentários!

Esperamos que você tenha se inspirado a acreditar que é possível se desenvolver profissionalmente e, ainda, realizar o sonho de uma vida na estrada. Bora juntes?

Imagens: Local Planet e Freepik

Autor

Oi! Sou co-fundadora do Local Planet e diretora da Enlink, agência de marketing digital. Nascida e criada em Foz do Iguaçu - PR, pratico escalada em rocha e corrida de rua, sou DJ no Brothas N Sista, fã de alimentação saudável e programações culturais.